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Produção industrial deve crescer em fevereiro, estima Ipea

De acordo com estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgada ontem (21), a produção industrial de fevereiro deverá mostrar crescimento de 0,3%. Segundo informou à Agência Brasil o economista Leonardo Carvalho, técnico de Planejamento e Pesquisa do órgão, sondagens recentes têm indicado melhora no setor. “Desde os últimos meses de 2016 a produção industrial registrou um crescimento mais relevante. Janeiro de 2017 foi um mês de estabilidade, com pequena queda de 0,1%, e agora a gente está projetando uma nova variação positiva”.

Ele explicou que, como houve essa melhora nos últimos meses do ano passado, isso acabou gerando um efeito estatístico denominado ‘carry over’, que considera o crescimento levado de um ano para outro. Isso significa que, se realmente a produção, pelas contas do Ipea, tiver crescido 0,3% em fevereiro, mesmo que no mês de março não haja crescimento, tudo que já aconteceu garante aumento de 1,8% da produção industrial no primeiro trimestre deste ano, em comparação ao trimestre imediatamente anterior.

“Para quem vinha com efeitos ainda bastante presentes da recessão, seria um alento a gente já ter esse resultado positivo no primeiro trimestre”, comentou o economista. Entre os fatores que estão por trás desse movimento, ele citou a questão dos estoques. Lembrou que a recessão provocou um ajuste muito severo de estoques e a economia, em particular a indústria, estava muito estocada, como resultado da própria crise. Esses estoques foram ajustados durante todo o período recessivo e agora, aparentemente, disse o pesquisador, estão muito perto de um nível planejado.

“Isso quer dizer que qualquer impulso que venha da demanda, por menor que ele seja, já consegue gerar um impacto direto positivo sobre a produção”. Destacou que uma empresa que tenha estoque e receba algum tipo de demanda, não vai produzir mais mas, simplesmente, vai “desestocar”.

Exportação

Outro fato que impulsiona a produção é a exportação. Nos últimos meses, tem se notado uma melhora no nível de produção na indústria automobilística, muito estimulada pelas exportações. Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) relatam alta de 5,9% na produção, em fevereiro. “É um setor que exporta muito para a Argentina”. Salientou que essa melhoria aconteceu com um nível de vendas ainda bastante deprimido. O setor cresceu em dezembro de 2016, caiu em janeiro e, em fevereiro, voltou a crescer.

Outra setor que pode ajudar a indústria este ano é o agrário, apontou Carvalho. Estimativas do IBGE indicam crescimento importante da safra e, embora se saiba que o peso da agricultura é pequeno para o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), este é um setor que tem encadeamento importante para vários segmentos da indústria, o chamado agronegócio.

O técnico do Ipea avaliou que a recuperação industrial ocorrerá de maneira gradual. “O importante é já ver esses primeiros indícios, que acabam refletindo nos indicadores de confiança”, disse. De acordo com o Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), está havendo melhora do nível de confiança empresarial da indústria desde o ano passado e a tendência tem se mantido nos primeiros meses de 2017.

Indícios

Leonardo Carvalho admitiu que o país ainda está em uma zona de pessimismo, mas essa sensação vem caindo ao longo de 2016 e está se aproximando de uma zona neutra. Ponderou que não se deve dar muito valor a dados pontuais quando se analisa a conjuntura, como o desempenho negativo da produção siderúrgica em fevereiro, mostrando queda de 3,5%, por exemplo.

Ele explicou que, apesar dessa queda, o segmento do aço está muito associado ao setor extrativo mineral que, dentro da indústria, é uma atividade que tem apresentado desempenho positivo nos últimos meses. Aliado a isso, tem o fator externo. Os preços das ‘commodities’ (produtos agrícolas e minerais comercializados no mercado internacional) em geral e, em especial, de minérios, têm crescido muito e isso pode ser um fator positivo para esse setor como um todo, afetando favoravelmente, de modo particular, a siderurgia nacional.

Retomada

Carvalho disse ainda que, como a economia ainda está no início do processo de retomada, tentando deixar para trás a recessão, ainda haverá flutuações, com resultados que indicam crescimento em um mês e queda no outro. Ele espera que no segundo semestre já se consiga observar nessas séries um movimento mais tendencial. E destacou que, mesmo uma estabilização, já constitui melhora em relação à tendência decrescente vivida durante o período de recessão.

Entre os pontos negativos, ele indicou os setores de bens duráveis e bens de capital, que são muito afetados pela demanda interna, devido à situação negativa do mercado de trabalho e ao consumo reprimido. “São setores que tendem, nesse primeiro momento, a sofrer um pouco mais com esse legado da recessão”. Bens duráveis são bens tangíveis que só perdem a utilidade com o uso persistente ou largo período de tempo, enquanto bens de capital são equipamentos e instalações necessários para a produção de outros bens ou serviços..

Fonte: Agência Brasil