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PIB do Brasil cai 0,3% no 5º trimestre seguido de contração

Foi a quinta queda trimestral seguida do PIB brasileiro. Na comparação com o mesmo período de 2015, houve queda de 5,4%.

 

A recessão brasileira se aprofundou neste início de ano. No primeiro trimestre de 2016, o Produto Interno Bruto (PIB) teve queda de 0,3% em comparação com os três meses anteriores, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a quinta queda trimestral seguida do PIB brasileiro. Em 2015, a economia brasileira “encolheu” 3,8% – o pior resultado em 25 anos.

 

Apesar da contração, foi o melhor resultado nessa comparação desde o quarto trimestre de 2014, quando o PIB cresceu 0,2%. Mas o dado está longe de ser bom, avalia o IBGE.

 

“Melhora por enquanto não houve até porque mesmo na margem a variação é negativa, mas é muito menor do que havia antes porque meio que manteve o patamar de queda em relação ao trimestre anterior”, explicou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

 

“Não é melhora, porque não é melhora das taxas espalhadas. (…) A leitura é o que cenário é realmente muito parecido e continua aquele espalhamento de taxas negativas pela economia praticamente como um todo”, explicou Rebeca. “A conjuntura está bem parecida entre o primeiro trimestre e o quarto trimestre do ano anterior em termos de desempenho da economia. Não tem grandes mudanças não”.

 

Nos últimos quatro trimestres, a queda acumulada é de 4,7% frente aos quatro trimestres anteriores  – a maior desde o início da série histórica, iniciada em 1996.

 

Valores correntes
Em valores correntes, o PIB atingiu R$ 1,47 trilhão no primeiro trimestre de 2016. Na comparação com o mesmo período de 2015, houve queda de 5,4% no PIB – a oitava contração seguida da economia.

Nos últimos quatro trimestres, a queda acumulada é de 4,7% frente aos quatro trimestres anteriores.

 

Em valores correntes, o PIB acumulado nos quatro trimestres até março de 2016 somou R$ 5,94 trilhões, sendo R$ 5,088 trilhões referentes ao Valor Adicionado (VA) a preços básicos e R$ 855,1 bilhões aos Impostos sobre Produtos líquidos de Subsídios.

 

DEMANDA
Pela lado da demanda, os investimentos e o consumo das famílias foram destaque negativo: o primeiro com queda de 2,7%, e o segundo, de 1,7%. As despesas do governo foram as únicas a registrar crescimento, de 1,1% frente aos três meses anteriores.

 

Na comparação com o mesmo período do ano anterior, todos os componentes da demanda tiveram queda pelo quinto trimestre seguido.

 

Claudia Dionísio apontou que a taxa acumulada de formação bruta de capital (investimento), que teve queda de 15,9%, importação, que caiu 18,3%, e consumo das famílias, recuo de 5,2%, também mostraram o resultado mais baixo desde o início da série.

 

De acordo com Rebeca Palais, o peso do consumo das famílias para o PIB, no entanto, é quase três vezes maior do que investimento, apesar da formação bruta de capital fixo ter mostrado maior recuo.

 

“Em quase todas as taxas, a influência pela produção e pela ótica da despesa, o consumo das famílias é realmente sempre o que mais determina o desempenho da economia. Então, é obvio que essa queda do investimento [18,3%] desse tamanho ajudou a puxar para baixo mais ainda”.

 

Consumo das famílias
Na comparação com o primeiro trimestre de 2015, o consumo das famílias sofreu um “tombo” de 6,3%. O indicador, que foi um dos grandes impulsos para o PIB entre 2008 e 2011, completou oito trimestres de queda nessa comparação. No acumulado em quatro trimestres, o recuo vem desde o período de abril a junho do ano passado.

 

Segundo o IBGE, essa queda é explicada pela deterioração dos indicadores de emprego e renda, e pela deterioração nominal de 2,1% do saldo de operações de crédito do sistema financeiro nacional para as pessoas físicas, do aumento da Selic, que alcançou 14,3% ao ano no primeiro trimestre contra 12,1% ao ano no mesmo período de 2015, e pelo crescimento da inflação em 10% no primeiro trimestre de 2016, em comparação com o primeiro trimestre de 2015.

 

Gastos do governo
O gastos de consumo do governo cresceram 1,1% frente ao trimestre anterior, mas mostraram queda de 1,4% na comparação com o período de janeiro a março de 2015.

 

“Estava havendo redução, que continuou no trimestre, mas ele foi menor do que o trimestre anterior em termos interanuais. E comparando com o trimestre imediatamente anterior, dá uma subida. O governo estava fazendo contenção da despesa de consumo e essa contenção continuou, mas foi menor do que tinha ocorrido no quarto trimestre do ano anterior que tinha sido a mais forte da série nos últimos tempos”, explicou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais.

 

Investimentos
Pelo décimo trimestre seguido, a formação bruta de capital fixo recuou na comparação com os três meses anteriores, numa queda de 2,7% – menos acentuada, no entanto, que a registrada nos períodos anteriores (veja no gráfico).

Frente aos primeiros três meses de 2015, foi a oitava queda seguida, de 17,5%. “Este recuo é justificado, principalmente, pela queda das importações e da produção interna de bens de capital sendo influenciado ainda pelo desempenho negativo da construção neste período”, diz o IBGE.

 

“Tanto a taxa de investimento quanto poupança já vendo tendo desaceleração aqui. No primeiro trimestre de 2014, a taxa de investimento era 20,9%, no primeiro de 2015, 19,5%, e no primeiro de 2016, 16,9%. Os investimentos vêm caindo já algum tempo, o investimento já cai há 8 trimestres seguidos. Então, com isso, vai refletir aqui, o pedaço dele representando no PIB vai ficando cada vez menor. A fatia dele é cada vez menor”, disse Claudia Dionísio. Para a queda da taxa de poupança, a gerente explicou o recuo com a queda da renda.

 

PRODUÇÂO
De acordo com os dados do IBGE, a indústria teve o pior resultado pela ótica da produção, com queda de 1,2% em relação aos três meses anteriores. A agropecuária recuou 0,3%, enquanto nos serviços a contração foi de 0,2%.

Indústria
Na indústria, a maior queda frente aos três meses anteriores se deu na extrativa mineral, de 1,1%. Já a indústria de transformação recuou 0,3% – no sexto trimestre seguido de contração. Construção recuou 1%, enquanto eletricidade e gás, esgoto e limpeza urbana cresceu 1,9%.

 

Ante o mesmo período de 2015, a indústria teve contração de 7,3% – a oitava seguida. A indústria de transformação caiu 10,5%, enquanto a extrativa mineral recuou 9,6%.

Sobre a queda de 9,6% da extrativa mineral, na comparação com o primeiro trimestre de 2015, o IBGE explicou que o desempenho “foi influenciado tanto pela queda da extração de minérios ferrosos como da extração de petróleo e gás natural”.

 

“A queda maior foi do minério, mas o peso maior é do petróleo. Nesse primeiro trimestre houve paradas de plataformas já programadas”, explicou Claudia Dionísio, coordenadora de contas trimestrais do IBGE.

 

Agropecuária
Depois de mostrar recuperação no último trimestre de 2015, a agropecuária voltou a cair neste começo de ano, com uma contração de 0,3% frente aos três meses anteriores. Ante o primeiro trimestre de 2015, a queda foi mais acentuada, de 3,7%.

 

No acumulado em quatro trimestres, foi a primeira queda do setor desde 2012, recuando 1%.

 

“A soja, 60% da colheita anual é feita no primeiro trimestre, e é ela que tem maior peso na lavoura brasileira. No caso, ela até apresentou expectativa de crescimento no ano, segundo o LSPA [pesquisa do IBGE], mas a área colhida está crescendo menos do que a área plantada. Apesar da soja ter crescido no ano, houve perda de produtividade. De forma geral, a atividade climática colaborou para isso”, explicou Claudia Dionísio.

 

Serviços
Os serviços tiveram queda de 0,2% frente aos três meses anteriores, puxados pela queda de 1% no comércio. Houve recuos importantes também de 0,8% em intermediação financeira e serviços e de 0,7% em serviços de informação. Transporte, armazenagem e correio teve contração de 0,4%.

 

Ante o mesmo período de 2015, o setor teve contração de 3,7%, com destaque para as quedas de 10,7% no comércio e de 7,4% em transporte, armazenagem e correio. Também tiveram resultados negativos as atividades de serviços de informação (-5%), outros serviços (-3,8%), intermediação financeira e seguros (-1,8%) e administração, saúde e educação pública (-0,8%).

 

“Caíram mais o comércio, tanto atacadista quanto varejista, transporte, principalmente o transporte de cargas, que puxaram mais. E serviço de transformação, que engloba telecomunicação, internet, agência de notícias, audiovisuais, e isso há um tempo tem esse comportamento porque estamos observando a substituição dos impressos pelos eletrônicos”, explicou Claudia Dionísio.

 

Comércio exterior
As vendas do Brasil ao exterior foram o ponto positivo dos dados divulgados nesta quarta-feira pelo IBGE. Frente aos três últimos meses de 2015, as exportações brasileiras cresceram 6,5%. Já a importação de bens e serviços – que contam negativamente no PIB – tiveram queda de 5,6%.

 

De acordo com a Claudia Dionísio, coordenadora de contas trimestrais do IBGE, o comportamento positivo da exportação que foi observado no quarto trimestre de 2015 continuou no primeiro trimestre de 2016.

 

“Exportação já vinha com contribuição positiva, mas nesse primeiro trimestre de 2016 aumentou. A desvalorização cambial favoreceu, e até atividade econômica interna mais fraca favorece na medida que parte da produção nacional acaba sendo enviada para fora”.

 

A queda de 21,7% da importação de bens e serviços, em relação ao primeiro trimestre do ano anterior, é a maior queda da série histórica, iniciada no trimestre de 1996, afirmou Claudia Dionísio.

“A gente explica com dois itens: desvalorização cambial, que teve um tombo de 37% no primeiro trimestre em relação ao primeiro trimestre de 2015. Se antes você comparava uma máquina por um valor, você está pagando agora 37% a mais por causa da valorização cambal. Tanto para investimento quanto para consumo. E no caso da exportação também, o produto brasileiro fica mais barato lá fora. E o segundo item é a demanda interna mais fraca”.

 

“A gente importou menos máquinas e tratores, siderurgia, veículos automotores, eletrônicos, extrativa mineral e serviços de transportes e viagens”.

 

De acordo com o IBGE, na contramão, o país exportou mais agropecuária (milho e soja), petróleo e derivados, metalurgia e veículos automotores.  “Como o volume da importação caiu bem maior, a maior contribuição positiva [no entanto] é pela queda da importação e não pelo aumento da exportação, mas também contribuiu”.

 

Previsões pessimistas
O resultado do PIB dos primeiros meses deste ano mostra que o Brasil está no rumo de mais um ano de recessão. Um relatório divulgado mais cedo pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que a situação econômica do país vai se deteriorar ainda mais este ano, com uma contração de 4,3% no PIB, seguida por uma nova queda, de 1,7%, em 2017.

 

Já os mercados financeiros preveem uma queda menos acentuada, de 3,81% na economia deste ano – a mesma esperada pelo governo, segundo o relatório de receitas e despesas do orçamento relativo ao segundo bimestre deste ano.

 

Fonte: Globo.com